Uma recente notícia vinda da Alemanha pode fazer o mundo parar para refletir: à partir de 2030 a fabricação e venda de veículos movidos a gasolina ou diesel será proibida por lá e, como se isso não bastasse, em 2050 nenhum veículo que se valha destes combustíveis para funcionar poderá ser utilizado naquele país.
Trata-se de uma proposição ainda sem efeitos legais, mas que pode vir a se efetivar. A sugestão que seria do Conselho Federal alemão tem como objetivo reduzir as emissões de poluentes. A aposta é que outros países sigam tal iniciativa com velocidade impressionante.
Maior fabricante europeu de motocicletas, a alemã BMW já tem portanto uma data precisa para soltar as séries especiais de equivalentes às atuais R 1200 GS, K 1600 GT ou S 1000 RR de 2029. Terão plaquinhas numeradas “Last Edition”, deverão custar os olhos da cara e prazo de validade de duas décadas. Ao cabo deste período serão sacrificadas no altar da sustentabilidade, habitarão museus, salas de visitas ou menos glamurosas garagens empoeiradas. Rodar em ruas… jamais.
No derradeiro ano de 2049 é bem possível que rodar com uma moto ou carro movido a combustão interna seja como acender um cigarro à mesa de um restaurante atualmente. Certeza de ser metralhado por olhares de desaprovação, repreendido rispidamente e visto como insensível, um pária social. Lembrar que pouquíssimos anos atrás tal atitude era quase praxe é no mínimo curioso.
Fabricar uma BMW R 1200 GS elétrica hoje é impossível. Ela é paradigma de moto aventureira, feita para rodar tanto quanto seu condutor resistir precisando de poucas paradas de reabastecimento por conta de seu grande tanque e larga autonomia, nó da questão nas elétricas.
A empresa alemã, assim como muitas outras, já vende veículos “zero emission”. Os automóveis i8 e i3 e o scooter elétrico C-Evolution funcionam maravilhosamente bem desde que a tomada de energia elétrica para energizar suas baterias não esteja a distância maior do que 200 km, ou seja, eminentemente urbanos.
Quem quer ir de São Paulo ao deserto do Atacama, ou de Brasília até Ushuaia com um veículo convencional — carro ou moto — hoje em dia encontrará pelo caminho a energia líquida necessária sob forma de gasolina para completar a viagem. Se decidir ir de BMW i3 ou de C-Evolution, terá problemas.
A charada será fazer as baterias durarem mais, ou os motores elétricos consumirem menos. Ela está sendo desvendada devagarinho e é o maior desafio visto que motos elétricas capazes de alcançar velocidades de cerca 250 km/h e acelerar de maneira igual ou até mais rapidamente que as melhores superesportivas já existem. A capacidade de oferecer emoção, exigência de muitos usuários atuais, estaria assim preservada.
Há o problema do custo, em média 1/3 acima do que modelos convencionais, da ausência de ruído e vibrações. Tudo isso é contornável, seja pela tecnologia — a Harley Livewire, elétrica (ainda não à venda, mas perto disso) emite um zumbido — ou por uma efetiva mudança de atitude dos clientes.
Os motociclistas estão sendo pegos de surpresa, assustados por um futuro elétrico que parecia distante mas que está às portas. Aplicar um prazo reverso assusta ainda mais: a decisão do conselho alemão deu pouco mais de 13 anos para as BMW como conhecemos hoje deixarem de existir. Imagine-se montado em sua R 1200 GS fabricada em 2004 olhando para a atual, a última da estirpe?
Os 33 anos que nos distanciam de um nem tão longínquo assim ano de 1984 é o prazo dado pelos alemãs para nos desvencilharmos da dependência dos motores a combustão interna. A data é “orwelliana”, consoante com a mudança de atitude que o Grande Irmão da sustentabilidade nos exigirá em nome do bem-estar, e mais do que suficiente para nos acostumarmos com as motocicletas elétricas.
Fonte: http://carros.uol.com.br/